Quer conciliar a música com a representação, gosta de raparigas simples e de competir com ele próprio, daí ser fã de boxe. Aos 22 anos não quer parar de aprender lições de vida.
Fizeste um curso na Escola Profissional de Teatro de Cascais, como descobriste essa vocação?
Era muito novo quando percebi o que queria fazer. Já o meu pai fazia o mesmo de uma forma amadora. Penso que terá sido po causa dele que comecei a gostar dos palcos. Foi ao meu pai que fui buscar as minhas inspirações. Acompanhava-o naquilo que fazia. Ele era encenador, mas era mais cantor. Desde muito pequenino que me habituei a deitar-me tarde para assistir aos ensaios. Daí veio a minha vontade de fazer disto uma forma de vida, ma mais séria. Tenho muito respeito por quem é amador, mas optei por aprender mais, por saber exactamente o que estava a fazer.
Então a tua família não estranhou teres optado por uma carreira artística?
Não, para eles foi uma coisa completamente normal, uma rotina diária.
O teu pai ficou orgulhoso?
O meu pai ficou muito orgulhoso por alguém da família, neste caso o filho dele, ter conseguido fazer aquilo que ele nunca conseguiu, que foi fazer do espectáculo a sua vida. Acho que ele também não quis, o caso dele era diferente. Mas para o meu pai foi tudo muito difícil, mais do que tem sido para mim.
Gostas mais da música ou da representação?
Complementam-se. Gosto de ambas. Antes de fazer teatro já tocava e cantava, mas era uma coisa muito mais utópica que o teatro, pois via que o teatro era mais fácil de atingir, já fazia parte da minha vida. Considerava que música estava muito longe do meu alcance, porque é um meio muito fechado. O que me abriu as portas da música foi a representação. Mas são duas coisas que me complementam igualmente. Fazem parte do meu dia-a-dia. São as minhas paixões.
Antes de tocares na Banda da "Floribella" onde tocavas?
Tocava no meu quarto, com o meu cão. Toquei um mês num bar, mas era muito complicado. Já há bares onde respeitam o músico, mas naquele era a mesma coisa que estar a tocar um cd. Gosto de bares onde se vai para ouvir música, até porque eu não sou daquelas pessoas que enquanto ouve música fala. Eu, ou oiço música ou estou a falar.
Como está a ser a experiência da "Floribella", dos concertos?
Sinto que ganho mais bagagem de concerto para concerto, mas de modo algum estou no topo de uma carreira. Acho que ainda me falta muita estrada, ma tem sido uma grande base, uma óptima experiência. O ano passado foi uma fase de explosão, de furor porque a "Floribella" era uma novidade no país. Foi um fenómeno. Acho que nunca mais na vida vou passar por algo assim, claro que gostaria, mas aquele sucesso todo é difícil. O entusiasmo do público é enorme. Recordo-me do nosso concerto em Guimarães. Ganhei noção da grandiosidade dos nossos concertos e eu quando ia a concertos grandes costumava estar no público e ali estava a ser o contrário. Foi o momento do clic, em que percebi que a telenovela era um sucesso e que eu estava a passar por uma experiência fora de série. Este ano as pessoas já estão mais habituadas a ouvir-nos. Já não há tanta novidade, nem para o público, nem para nós.
Identificas-te com as músicas da "Floribella"?
Não é o estlo que eu escolheria para tocar ou compor, mas é um golpe de génio de quem as compôs porque os temas são muito "orelhudos". Não há ninguém que não conheça uma música da "Floribella", é impossível que elas não entrem no ouvido. Há frases músicais que me agradam muito, mas o albúm que fiz há pouco tempo é diferente. Foram músicas que escolhi, tenho ali o que quero e gosto de ouvir.
Deve dar muito gozo fazer concertos com essas músicas que o público já sabe tão bem...
Sim, dá muito gozo. Divirto-me muito nos concertos, divirto-me muito a tocar com os meus colegas.
Porque razão dizem que és o mais vaidoso da banda?
Sou um metrosexual assumido. Sou mesmo, e não tenho vergonha nenhuma de o dizer, ao contrário da maior parte dos homens. Não saio de casa sem me arranjar, faço desporto, uso alguns cremes. Gosto de cuidar de mim, de ter cuidado com a minha saúde e dou importância ao aspecto físico. Não ligo ao das outras pessoas, mas ao meu sim. Não faço disso o centro da minha vida, mas sou cuidadoso comigo.
Tens tido sucesso com os teus cuidados com a imagem? Tens namorada?
Isso eu guardo para o meu diário.
O que mais gostas numa rapariga?
Fisicamente são os pés, mas no seu todo, gosto de uma pessoa compreensiva. A simplicidade facilita tudo. Uma pessoa simples adapta-se a qualquer meio, a qualquer estilo de vida, enfim a tudo. É claro que também gosto de ter algumas dificuldades, porque não gosto de coisas fáceis. Gosto que me compliquem a vida, mas não muito.
Achas que há muitas adolescentes apaixonadas por ti?
Não sei. Sei que há muitas pessoas que simpatizam com a minha personagem.
Como lidas com o assédio dessas fãs?
Nunca me dou muito bem, porque fico envergonhado. Até devia ser ao contrário, as outras pessoas é que deviam ficar envergonhadas. Agora, como já estou mais habituado já consigo "meter" mais conversa. Entrego-me muito às pessoas, digo algumas piadas, o que é sempre um bom escape.
Quando vai ser lançado o teu cd?
Já está gravado, será lançado durante o mês de Setembro e vai chamar-se Marco Medeiros.
O que representou para ti gravar o teu primeiro cd?
Foi mais um marco na vida do Marco. Consegui furar aquele círculo fechado do mundo da música. Agora só espero continuar porque tudo o que eu faço na vida é para ter continuação, não é para ser só uma experiência. Este cd foi feito com aquilo que acho que é qualidade, da melhor maneira que sei. Um dia vou olhar para ele e pensar: "é meu, fui eu que o fiz, eu consegui fazer isto". Ele até pode ser o maior fracasso, mas fui eu que o fiz e gosto dele.
Qual o género musical que seguiste?
Tem pop, rock, jazz, soul, funck. É uma grande mistura.
Qual a tua formação musical?
Canto lírico, expressão oral por causa do teatro, mas a nível instrumental sou um auto-didacta.
Depois do cd lançado como vai ficar a tua carreira de actor?
Vai ficar na mesma. Quando a "Floribella" terminar quero continuar. Alguma coisa vai surgir e se não surgir vou à luta.
O que a experiência da "Floribella" te acrescentou como pessoa?
Muito. Ajudou-me a perceber que o sucesso é efémero, que a estabilidade profissional também. A "Floribella" trouxe-me dos momentos mais felizes da minha vida. Foi a fase em que alcancei mais estabilidade em todas as áreas. Fiz muitos amigos. Não tenho vida pessoal, porque a minha vida é a minha profissão. O meu bem-estar depende muito da minha profissão, por isso tive a sorte de estar um ano e meio bem. Posso afirmar que nunca tinha estado um mês sem trabalhar, mas este foi um ano muito estável e que deu a possibilidade de dar a conhecer o Marco Medeiros ao público. Ao teatro vão 100 pessoas por dia e a "Floribella" era vista por cerca de um milhão... Abriu-me muitas portas. Tenho a certeza que daqui a 50 anos vou agradecer à "Floribella" e já agradeço. Como actor cresci muito porque a televisão obriga-nos a um ritmo de trabalho intenso, pois temos de atingir a perfeição em segundos, é um grande exercício.
Porque razão deixaste de viver sozinho?
Viver sozinho foi uma experiência boa. Um dia acordei e achei que ir viver sozinho me ia fazer bem. Foi uma experiência de um ano que me enriqueceu muito, cresci como pessoa. Passado um ano percebi que realmente gostava da solidão, mas não quando era obrigatória. Estava a sentir-me muito só. Por isso resolvi voltar para casa dos meus pais. Eles e o meu cão fazem-me muita companhia.
Faz-te confusão teres voltado a viver com os teus pais?
Alguma. Em casa dos meus pais desleixo-me com a arrumação das minhas coisas. Sinto-me mais adulto desde que vivi sozinho, gosto dessa sensação, mas ainda sou um puto, ainda faço muitas asneiras e estou a aprender diariamente. Espero que assim seja até aos 100 anos.
O que mais te fascina no boxe?
É a competição. Gosto de competições interiores, gosto de competir comigo. Embora o boxe tenha sido uma ilusão. Sou um fanático da saga do Rocky e via sempre o treinador a puxar por ele, e ele ultrapassava os limites. E de facto no boxe ultrapassam-se limites, mas não estamos sozinhos, as aulas são em conjunto e a atenção dispersa-se. Gosto de sair das coisas a morrer, como se desse mais um passo e morresse. Mas afinal eu saía das aulas ainda com energia para pensar. Já não pratico boxe há uns meses... Para quem faz televisão não é bom aparecer todos os dias com um olho
negro.
Perdeste 14kg num mês antes de começares a gravar a "Floribella". És sempre assim tão determinado?
Sou muito. Quando ponho uma coisa na cabeça faço-a. Não aconselho a ninguém, acho que fui muito exagerado. Espero vir a ter mais momentos de determinação na minha carreira. Eu não era o exemplo de um galã ou do menino bonito da banda e achei que o meu papel pedia uma certa imagem que eu não tinha.
No teu disco há letras e músicas que são tuas. Em que te inspiras? As músicas já estavam escritas há muito tempo?
Há oito que são minhas. Trabalho muito sob pressão e até sou desleixado. Cerca de quatro músicas já estavam feitas. Inspirei-me naquelas fases da juventude em que me sentia só, angustiado. As outras foram feitas sob pressão. Há letras que poderia ter feito com mais calma, mas acabei por fazer no limite da entrega. Percebi que é assim que funciono. Podia achar que tinha escrito letras sem sentido, mas não. Consegui que contassem uma história, exprimissem um sentimento. Claro que ia tendo ideias durante a semana, mas só num dia é que as punha em papel. De qualquer forma consegui fazer um trabalho com alguma qualidade, modéstia à parte. A modéstia é importante, mas também temos de valorizar o nosso trabalho.
in Gente Jovem (nº 47) - http://www.marcomedeiros.pt.vc
Créditos: Floribella Online